Com Agulhas

Eu gosto de escrever, de inventar uns diálogos loucos em jantares imaginários. Eu gosto de roupas, invento uns modelos e luto pra dar as luzes, partos difíceis esses, idéias. Gosto de comprar roupas e sapatos, futilidades não, estilo próprio; não sou uma fashion victim - a vida é demasiado curta pra rótulos e embalagens estragadas. Eu gosto de café, de canecas e de planos de casamento. Gosto de mim, contudo e com tudo.

Com Canetas

Eu tenho um dois à esquerda na idade, mas não acho que sou tão velha. Chamo minha gata de nenê e dou apelidos adoráveis ao meu namorado. Eu tricoto porque me acalma, produzindo, me agradam as cores das lãs. Eu amo porque não vivo no gris, amor vivo, amo pessoas e filmes e livros e bichos. Eu tenho o Heitor, já me basta de tanto amor. Eu adoro a língua francesa, adoro as idéias parisienses e as boinas e os cafés.

O Último Ponto da Carreira

Nos idos tempos de junho desse ano, eu dava meus primeiros pontos vacilantes na arte do tricot. Tenho várias historietas e anedotas tricotísticas para compartilhar com vocês, mas essa não é a hora. Quero falar sobre minha dificuldade com o último ponto da carreira. É muito chato tricotar o último ponto, lembro que perdi vários no meu teste cor de rosa. Ele fica estranho, feio... E parece que vai cair da agulha a qualquer momento. Todos os pontos parelhinhos, bonitinhos e ele ali, irregular e tosco. Tento puxar o fio de maneiras diferentes, aperto bem o dedo na hora de passar o ponto de uma agulha pra outra, mas nada funciona e ele continua saindo todo torto e zombeteiro. Sou uma iniciante, achava que era por isso, mas minha mãe hoje comentou que o último ponto sempre sai feio. Claro, ao tricotá-lo de novo, quando ele magicamente vira o primeiro ponto da carreira seguinte, ele se ajeita. Mas a tortura vai continuar a cada fim de carreira, o pontinho rindo da minha falta de habilidade.

Essa minha falta de tato com o último ponto da carreira é eterna. Não sei lidar com encerramento de ciclos, tudo sempre sai esquisito e só se ajeita na hora de recomeçar. Mas dessa vez não é fácil, pelo menos nada comparado à rapidez de iniciar a próxima carreira do cachecol. Nessas outras situações as coisas ficam chatas, complicadas, esquisitas e dá vontade de ignorar o ponto solto, ir fazer outra coisa... Tecer, talvez. Entretanto, apesar da minha vontade, não é assim que as coisas funcionam com as pessoas.

Eu passei por muitas coisas com meus amigos, por exemplo. Criei laços, perdi contato, ri e voltei a falar com eles. A lã se enrosca quando quero me afastar de alguém. Tenho vergonha de expor minha vontade, principalmente se nada aconteceu de grave entre essa pessoa e eu. Pelo menos que ela saiba...

Não que eu queira brigar com velhos amigos e só andar com pessoas novas, é o contrário até. Pelo menos em comparação de tempo, meus atuais confidentes são participantes da minha vida há uns meses mais que os outros, ai que enrosco de fios!!! Assim, tenho uns amigos amados há anos. Outros, há menos anos. Entre esses, tem um grupo que me encantou, me fez querer ser outra pessoa pra me enquadrar nas suas vontades e me quis bem. Mas eu nunca fui parte deles, não como eles foram de mim. Alguns desses amigos – eu gosto de todos, pra deixar claro – foram mais importantes pra mim e, o principal na hora da diferença, me deixaram ser mais importantes pra eles. Esses eu quero sempre por perto, apesar de não podermos passar os dias grudados como antes. O problema é um só: eles vêm com o kit dos outros, os que eu não faço tanta questão de ter ao meu redor. E parece que é aí que o ponto fica estranho, não dá pra separar uns de outros... Mas eu não sou parte de um círculo estático de amizade, sou só eu e tenho indivíduos como amigos... Mas como dizer isso sem ferir os outros, aos quais eu quero bem, e sem despertar desconfianças? Como ser clara se há tanto peso nesse silêncio?

É aí que parece que eu perdi o ponto, mas sei que quero recomeçar com os amigos que mais me fazem falta nesses dias de mudanças... Vou ter de dar um jeito nessas coisas, ou então como tricotar essas amizades sem ter vontade de jogar fora as agulhas e procurar outros trabalhos... Talvez escreva umas cartas, vá a alguns cafés e dê uns telefonemas pra marcar os dias dos reinícios de carreiras. Afinal, me saio bem com as palavras e atrás de uma xícara de café.

Orgulhosamente apresento: os livros que eu NÃO li!!!

Hoje, depois do jantar e durante o espresso digestivo, eu estava a folhear a edição de agosto da revista Superinteressante. Lá, bem no início, eu me deparei com Pierre Bayard, um psicanalista e professor de Literatura francês. Ele fala sobre a não-leitura dos livros. Assim, para ele uma pessoa não precisa ter lido os clássicos da literatura da primeira a última palavra para ser culta – essa seria apenas uma forma de se ler o livro. Mais interessante, segundo Bayard, é ser capaz de correlacionar as obras e seus autores com o contexto literário, não necessariamente ler os livros todos do início ao fim. Ele fala que existe uma pressão tão grande para que leiamos muito, leiamos tudo, que acabamos com medo e preguiça de ler. Temos vergonha dos livros que não lemos e muitas vezes mentimos. Quem tiver a oportunidade de ler essa entrevista na Super, o faça. Se quiser, também, ou só a folheie. Essa também é uma forma de leitura, sabiam? Até só ouvir falar do livro já é um contato... Quem sabe eu falo mais sobre essa matéria amanhã, mas agora quero falar de minhas não-leituras e desleituras – desleituras são os livros que lemos e acabamos esquecendo...

Por exemplo, entre muitos outros, eu não li:

· Grande Sertão: Veredas – João Guimarães Rosa

· Ulysses – James Joyce

· As Ondas – Virginia Woolf

· As Palavras e as Coisas – Michel Foucault

· Quase a Mesma Coisa – Umberto Eco

· Os Lusíadas – Camões

· Os Irmãos Karamazov – Dostoyewsky

· A Caverna – José Saramago

· Jangada de Pedra – José Saramago;

· Como Falar dos Livros que Não Lemos? – Pierre Bayard

Eu esqueci de várias partes de vários livros, mas os que mais me intrigam são:

· Crime e Castigo – Dostoyewsky

· Anna Karenina – Tolstoy

· O Dia do Curinga – Jostein Gaarder

· Madame Bovary – Gustave Flaubert

· O Pêndulo de Foucault – Umberto Eco

· Esqueci dos outros...

Antes que eu comece outra lista, vou assistir de novo ao segundo episódio de Pushing Daisies.

Au revoir!

Iarimas

Respirar projetos, sempre. Preciso ter o que fazer, mesmo no mais completo ócio amoroso das férias do Heitor. Seja tricotar uma manta, tecer outra, fazer uma bolsa, inventar um casaco, escrever coisas no blog ou tirar umas fotos. Não posso dormir o dia todo, não posso viver só de beijos e mãos dadas.

Meu namorado é perfeito pra mim. Ele também precisa de mais coisas, viver de um só é doentio. Até impossível a um casal de tamanhas distâncias na maior parte dos dias. E passar algumas horas de um sábado sentada, na frente de um computador, procurando por formas de transpor idéias para uma lona é exatamente isso... Sou feliz por não ser somente uma namorada. Sou isso e tanto mais, eu sou mais e mais. Posso ser tudo, posso ser minhas idéias e o meu amor, posso me dedicar a coisas sérias e a fofocas entre amigos.

Banal essa constatação, mas nem tanto pra mim. Alguns sabem de como tive relacionamentos desgastantes e obsessivos. Acho que nada mais pode ser operático como já foi, comigo. Cansei de tamanhos dramas, agora minha atuação é menos teatral... Talvez as sutilezas do cinema combinem melhor comigo.

Hoje sou menos Maria Callas e mais Regina Spektor. Porque preciso de umas loucurinhas, nunca serei absolutamente normal.

E agora, ao tricô.

La Vie en Rouge

Uma vez uma menina foi vista. Moça, na verdade, bem mais que menina. Ela já vivia há uns dezoito anos, passara pelas fases inerentes à condição humana e andava sempre pela rua. Seu nome, bem... Dele eu não me lembro, talvez nem o tenha aprendido. O que importa é que ela foi vista, um dia, passeando pela sua cidade... Morava no norte da Alemanha. Tudo bem que naquela época não existia uma “Alemanha” propriamente dita, unificada e todas essas coisas.

Ela foi vista no século XIX. Um vestido azulado, um coque restringindo os cachos de seus cabelos avermelhados, os olhos cinzentos. Quem a viu foi um rapaz de bigodes escuros, cabelos penteados para trás, uma xícara de chá na mão. Ele gostou do que viu, procurou os pais da moça e se tornou seu noivo. Ele gostava dela justamente pelo que ela era: uma moça absolutamente normal e igual a qualquer outra.

Essa moça normal se casou com o rapaz bigodudo, cozinhou refeições e pariu filhos. Mas antes de tudo isso, ela odiava ser normal. Seus lindos olhos cinzas eram absolutamente iguais aos olhos de todas as meninas da sua cidade! Seus cabelos avermelhados eram parecidos com os cabelos de muitas das jovens que conhecia. Ela sonhava ser diferente na aparência, pois sabia ser diferente por dentro. Quis ter olhos amendoados e cor de mel, cabelos muito lisos e negros, a pele mais escura... Ela talvez não soubesse, mas queria ter nascido índia.

Quando virou Frau Redü, a jovem parou de se lamentar e passou a lavar as roupas de seu marido.

Ela só não contava com a reviravolta que aconteceria na sua vida de recém casada. Herr Redü perdeu todo o dinheiro que tinha em um negócio capcioso e resolveu fugir da Terra dos Poetas e Pensadores, levando consigo sua jovem e grávida esposa.

Depois de semanas em um navio cheio de lavradores, Herr e Frau Redü chegaram ao Brasil. A jovem esposa, já conformada a sua condição de mais uma, foi surpreendida pela diferença das pessoas nesse país quente! Ninguém era parecido com ela. E ela sorriu, se tornou a pessoa diferente que sempre quisera ser sem ter que mudar nada.

Viveu feliz com o marido e os filhos. Teve netos e bisnetos.

Cento e cinqüenta e poucos anos depois, sua bisneta mais parecida tinha algo de diferente. Os olhos, a pele e o corpo eram iguais aos dela. Mas o ruivo dos cabelos se tornara castanho. Não riria tanto a Frau Redü ao ver que sua bisneta iria encher seus cachos de químicas para conseguir chegar perto do seu, odiado, tom natural de cabelos?

Oito vezes Oito

Oito8


Então o Drácula me intimou a escrever oito coisas que eu quero fazer antes de morrer. A calhar, devo dizer, veio essa “oferta”... Já pensava nas sete, agora é só jogar mais uma. Na verdade, vou fazer o jogo dos oitooito, colocando mais uma categoria no jogo dos sete.

Allons...

Oito coisas a fazer antes de morrer:

© Ser fluente em francês;

© Tricotar um cardigã vermelho;

© Desenhar e construir o meu vestido de noiva;

© Casar com o Heitor em 11/11/11;

© Ter a família que eu sempre quis;

© Morar em Paris;

© Escrever e publicar algum livro;

© Ver uma raposa ao vivo (tocá-la já seria meio ousado).


Oito coisas que eu mais digo:

© Xu...

© Heitorzinhoo...

© Ai que *****!!!

© Mãe, me ajuda aqui...

© Pêêta, vem aqui com a mamãe!

© Isso só acontece comigo.

© Computadores são maus.

© Não sei...

Oito coisas que eu faço bem:

© Persuadir pessoas;

© Escrever;

© Inventar modelos de bolsas, saias, casacos...

© Trocadilhos com palavras em inglês especialmente “Knit” ;

© Criar e fazer cartões de aniversário;

© Cuidar do meu namorado;

© Aprender línguas estrangeiras;

© Ser pessimistamente engraçada.

Oito coisas que eu não faço:

© Comer picles;

© Dormir de cabelos molhados e soltos;

© Ler Paulo Coelho;

© Forçar amizades;

© Andar de barriga de fora;

© Usar calças Saint-Tropez;

© Assistir a cobranças decisivas de Pênaltis em jogos do Grêmio;

© Usar esmalte azul ou laranja.

Oito coisas que me encantam:

© Processos de criação e confecção de coleções de moda;

© Raposas;

© Filmes do Cameron Crowe e do Tim Burton;

© Línguas estrangeiras – principalmente a francesa;

© Vozes femininas suaves e rasgadas;

© Literatura com um quê de realismo mágico;

© Viagens e todos seus processos relativos;

© Tricô instintivo.

Oito coisas que se deve saber sobre mim:

© Eu namoro a distância e sou fiel;

© Eu demoro pra escolher tudo;

© Odeio me atrasar;

© Adapto as tendências à minha personalidade;

© Detesto ser contrariada;

© Conto piadas politicamente incorretas;

© Fico vermelha por qualquer coisa;

© Faço manha.

Oito coisas que eu odeio:

© Pseudo-intelectuais;

© Ser menosprezada;

© Ficar no vácuo;

© Não enxergar/alcançar as coisas por ser baixinha;

© Embalagens;

© Gente estúpida;

© Lençol mal dobrado;

© Impostos.

Oito nostalgias gastronômicas:

© Biscoito Fofy’s;

© Chocolate Surpresa com as figurinhas dos planetas ^^ ;

© Kinder Ovo barato;

© Omelete da minha avó;

© Lanchinho de bisnaguinhas e presunto da minha tia avó;

© Caça aos ovos de páscoa na casa da minha tia avó;

© Push Pop “Puxa é gostoso! Prove Push Pop e guarde de novo!”

© Picanha quase viva do tio Luís.

E se acabaram as listas... Oito bloggers? Hmm, quem quiser faz. O que eu amo, amo. O que eu vou fazer, faço. Minhas nostalgias estão marcadas...

Hoje foi um dia legal... Ganhei meu primeiro perfume francês ^^

Amanhã falo sobre as mudanças iminentes.