Com Agulhas

Eu gosto de escrever, de inventar uns diálogos loucos em jantares imaginários. Eu gosto de roupas, invento uns modelos e luto pra dar as luzes, partos difíceis esses, idéias. Gosto de comprar roupas e sapatos, futilidades não, estilo próprio; não sou uma fashion victim - a vida é demasiado curta pra rótulos e embalagens estragadas. Eu gosto de café, de canecas e de planos de casamento. Gosto de mim, contudo e com tudo.

Com Canetas

Eu tenho um dois à esquerda na idade, mas não acho que sou tão velha. Chamo minha gata de nenê e dou apelidos adoráveis ao meu namorado. Eu tricoto porque me acalma, produzindo, me agradam as cores das lãs. Eu amo porque não vivo no gris, amor vivo, amo pessoas e filmes e livros e bichos. Eu tenho o Heitor, já me basta de tanto amor. Eu adoro a língua francesa, adoro as idéias parisienses e as boinas e os cafés.

Trinta de Novembro


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Ainda não sei como dizer essas coisas – se elas não estiverem em uma carta quilométrica ou em um cartão gigante – mas eu quero que tu sejas sempre feliz e possas contar comigo. Com vinte, vinte e cinco, trinta ou cento e dois.

És uma das minhas pessoas favoritas e eu gosto de ti aos montes, estou te devendo um bolo e uma visita... Quem sabe amanhã, pra te levar a carta?

Feliz Aniversário, Victor.



Umas Vontades

Ando com vontade de pessoas, de ficar rodeada de gente e só ouvir as vozes, tantas vozes, se perdendo no vento. Rios de risos e rios de lágrimas, tudo depende do curso dos encontros, mas minha ânsia é por gente que seja diferente de mim e parecida com minhas projeções.

Queria poder viver entre amigos e nunca enjoar, nunca querer dormir e esquecer as coisas, estar sempre no turbilhão... Porque quando a cortina cai, a porta fecha e a luz apaga, aí é que eu tenho de ouvir os meus fantasmas e lidar com as almas penadas da minha consciência; aí é que eu fico sozinha comigo mesma e preciso fazer companhia pras Iarimas de dentro de mim. Não tem sido divertido, pelo menos nos últimos dias.

Ando com vontade de mim, mas só quando eu estou acompanhada pelo outro. Aí eu vejo uma graça que se perde no travesseiro, na toalha e no teclado.

Ando com vontade de Heitor, como sempre, como nunca. Ele me faz tão feliz, sempre, mesmo só nos sonhos e nos pensamentos. Mas quero sentir sua pele, ouvir sua voz e ver seus olhos.

Ando com vontade de lápis e papel amarelo.

Ando com vontade de lã e agulhas.

Ando com vontade de inverno.

Okay

Primeiro: Eu posto quando eu quiser;

Segundo: Eu tenho preguiça;

Terceiro: Meu irmão monopoliza o computador;

Quarto: Vou criar blog novo;

Quinto: Comecei o romance, mas ainda está morno;

Sexto: A vadia aqui, surpreendentemente, não ficou de ressaca;

Sétimo: Hoje é segunda e, logo, a dieta reina e, logo, crappy mood;

Oitavo: Eu não sei sobre o que falar;

Nono: Fazendo hora até o...

Décimo: Chegar.

Feira do Livro

   Hoje eu saí de casa às oito da manhã e vi a praça. Uma certa nostalgia se apoderou de mim ao ver os balaios, as bancas, os tapumes brancos que encheram a praça de letras e parágrafos, muitas pessoas que normalmente não passeiam por ali se refestelaram nesses últimos dezessete dias. É estranho ver todo mundo se espremendo na frente da minha casa pra ver livros, chega a ser insólito. Pessoas que não possuem hábitos regulares de leitura, que não costumas passar horas preguiçosas em livrarias andando entre os estandes...
   Mas agora acabou, as livrarias retiram seus livros, os operários desmontam as banquinhas e eu me sento no redondo da frente do Sete de Abril mais uma vez, mas sozinha agora. A Feira sempre me viu acompanhada, me viu com a minha pessoa predileta entre todas - de mãos dadas e vendo os livros queridos que me reconfortam em horas de decisões difíceis, antes de todas as saudades que sempre se seguem às pequenas viagens à rodoviária... - , me viu com o meu melhor amigo, com amigas novas que são muito queridas... Revi amigos velhos de bebedeiras vespertinas (ok, o único amigo velho de bebedeiras vespertinas), gente do CEFET, o Mr. Mime e a Roberta... Agora as coisas voltam ao comum, mas nem tão comum.
   A Feira se vai, mas a Praça continua. Eu ganhei livros e comprei presentes lá, ganhei e dei beijos e abraços.
   Ainda verei a Aline e a Scheila, falarei muito com o Moisés e o Heitor é o constante deleite da minha vidinha de tricoteira desocupada (calor não permite o tricô). Porém a melancolia pós-Feira é inevitável ao ver seus resquícios sendo apagados dia após dia toda vez que saio do apartamento, ao comprar pão ou ir ao correio, ao ir à casa do Moisés ou ao Café.com.
   Acho que vou precisar de caminhos alternativos.

A Sintaxe das Coisas

Em épocas de Feira do Livro e de reformas gramaticais, eu me pego em humores morfológicos e vejo a sintaxe das coisas. É uma dança lingüística na minha cabeça, e pode parecer realmente enfadonho a pessoas não interessadas por tais temáticas.

Não vou me prolongar em tecnicidades – até porque não me garanto nessas argumentações - , entretanto não posso deixar de escrever sobre alguns fatos.

Primeiro: A reforma da língua... Um tratado de uniformidade entre os países lusófonos me faz sentir desconfortável. Não concordo com esse tipo de homogeneidade lingüística, acredito que, quanto mais rica a língua materna da pessoa, mais criativa ela pode ser – por isso americanos são levemente lerdos. Podem jogar pedras e dizer que não é nada de mais essa reforma, que só perdemos o trema e mudamos a regra do hífen, porém meu medo se fundamenta nas futuras reorganizações de língua (quem leu 1984 entende minhas crises de pânico), em uma supressão de palavras para que não se saiba pensar e sentir daquele jeito... Seríamos mais burros, mais insensíveis, mais fáceis de dominar e controlar (imaginem não conhecer, por exemplo, a palavra “amor”? É um exemplo meio cafona, reconheço, mas se não podemos pensar o sentimento, se não encontramos meios de expressá-lo com palavras, é só uma questão de tempo até que nos esqueçamos dele – não a princípio, mas em futuras gerações). Além disso, se o que se busca é uma “língua única”, é uma questão de tempo até que se resolva banir dialetos e expressões regionais – afinal, não se fala em Pelotas o mesmo português de Maceió. Obviamente isso tudo se resume à língua escrita, mas mesmo assim... Li Saramago grafado em Português de Portugal a vida toda e nunca deixei de entender... Não é o C de objecto que me impede de entender o que ele está a querer expressar. Essas pequenas diferenças não criam barreiras ao entendimento e, aos que gostam de dizer que a língua que se fala no Brasil não é a mesma de Portugal, dêem uma pesquisada no que configura, de fato, a definição de Língua. Isso vai esclarecer algumas dúvidas que eu, mera entusiasta, não poderei tirar.

Segundo: ganhei um livro do meu queridíssimo namorado: A Jangada de Pedra do “Zé” Saramago. Esse português velhão que anda na moda por causa da versão cinematográfica de um dos seus livros mais famosos consegue, desde a primeira frase, me deixar absorta em comunhão com seu discurso. Sempre protelei a leitura de seus livros, tinha preconceito por seu prêmio Nobel e essa palavra é oxítona e por toda a mitificação de suas personagens e seus enredos. Em uma das greves do meu Ensino Médio acabei por retirar de uma biblioteca a sua História do Cerco de Lisboa e o velho me ganhou. Sobre esse livro, o meu favorito entre todos os livros, vou escrever uma ode um dia, quando ele cair nos meus braços como presente. Enfim, Saramago é meu escritor predileto desde as primeiras vírgulas. Ficava pensando, por que gosto tanto dele, não é nada de extático aos outros... Percebi uma das razões, estava na cara desde o início, suas linhas de raciocínio se enveredam por caminhos aparentemente ilógicos e voltam, resplandecentes, ao ponto onde devem chegar. E disso eu entendo... E ele usa as palavras de um jeito tão... Ah, não consigo explicar, só posso me sentir aliviada por tê-lo lido em Português, língua materna de nós dois (e de todos os meus leitores aos quais eu indico a leitura dos livros do Zé... Não é fácil, mas recompensa)... Imaginem quanto dele se perde na tradução? Enfim, fiquei feliz com meu livro novo e já comecei sua leitura.

Terceiro: Somos excluídos digitais aqui no quarto do Heitor (a internet wireless da casa não chega aqui por causa das paredes – e do desktop e dos outros dois laptops mais bem localizados), e isso dificulta um pouco a comunicação com outras pessoas. Além disso, estou com o meu namorado querido – por isso nem me esforço mesmo.

Feira do Livro ainda existirá depois de terça e eu prometo passear com todos, estou com saudades.

Beijos a todos,

Iarima Redü meu nome não vai perder a carinha feliz!!!