Com Agulhas

Eu gosto de escrever, de inventar uns diálogos loucos em jantares imaginários. Eu gosto de roupas, invento uns modelos e luto pra dar as luzes, partos difíceis esses, idéias. Gosto de comprar roupas e sapatos, futilidades não, estilo próprio; não sou uma fashion victim - a vida é demasiado curta pra rótulos e embalagens estragadas. Eu gosto de café, de canecas e de planos de casamento. Gosto de mim, contudo e com tudo.

Com Canetas

Eu tenho um dois à esquerda na idade, mas não acho que sou tão velha. Chamo minha gata de nenê e dou apelidos adoráveis ao meu namorado. Eu tricoto porque me acalma, produzindo, me agradam as cores das lãs. Eu amo porque não vivo no gris, amor vivo, amo pessoas e filmes e livros e bichos. Eu tenho o Heitor, já me basta de tanto amor. Eu adoro a língua francesa, adoro as idéias parisienses e as boinas e os cafés.

Explico-me...

Como ser original e único sem parecer pretensioso? O que define a criatividade e o que a separa da mais pura insanidade? Idéias surgem todos os dias, mas como traduzi-las para uma realidade mais imediata? Dar vida a pensamentos, pô-los em palavras, tecidos, cortes ou parágrafos... Esse questionamento é saudável. Mas me incomoda não conseguir fazer nada como desejava, idealmente os conceitos surgem... Entretanto, obviamente, muito se perde da sua essência no processo de fixação. Idéias lindas surgem a cada dia, eu as tenho o tempo todo... Aliás, acho que o cogitum estava errado. Ou pelo menos, leonina, eu não o formularia da forma cartesiana. Crio, logo existo. Pensar, todo mundo pensa. Mas aquela coisa, mínima fração de segundo, em que se cria alguma coisa: Eis seu milagre.
Todas essas baboseiras surgem depois do dia em que eu decidi algo. Simplesmente odeio a faculdade de Letras. Adoro os livros, as palavras, a literatura me preenche as horas deliciosamente. Mas isso é um hobby. Depois da primeira aula de pedagogia, todas as minhas ilusões quanto a ser professora e mudar o mundo acabaram. Ser pesquisadora, então, se tornou a alternativa viável: Dra. Iarima, professora da faculdade, dedicando minha vida profissional aos alfarrábios. Minha vaidade e meu ego se satisfaziam naquele curso medíocre, todos os professores me adoravam, eu tirava notas altíssimas, a melhor da turma.
Mas aquela vozinha insatisfeita crescia dentro da minha cabeça – e eu não sou clinicamente esquizofrênica!
Não havia desafios e havia, e como, desafetos. Pensei que a solução seria trocar de curso, mas continuar na área de literatura... Porque, sabem, eu amo escrever. Só que eu fui me entediando, entediando, entediando. No que eu estava pensando? Não posso viver sem ser criativa! Um mundo de livros seria fascinante, conceitualmente, mas chato fazer só isso pelo resto da minha vida! Eu preciso de cores, preciso de texturas e assimetrias! Aonde eu encontraria assimetrias na Letras?
Foi então que pensei muito e que, por que não, resolvi desenterrar as minhas esperanças infantis. O que eu queria fazer, quem queria ser, no que me queria transformar... Antes das imposições, do valor do dinheiro, das dificuldades de família de classe média. Eu queria ser estilista. Adorava revistas de moda, tecidos, linhas, brincava de costurar na máquina velha da minha avó. Fazia moldes, desenhava sapatos e chapéus, e depois pintava tudo com cores misturadas.
Se a menina é mãe da mulher, por que não ouvir a alguém mais velho do que eu? Porque fui criança antes de me tornar quem sou. Eu já era eu, sem dúvida, mas mais natural. Se eu desejava tão ardentemente isso, então devia estar certa.
Estou decidida, agora. É ridículo, mas vou admitir: Estava preocupada com a reação das pessoas ao começar a contar dos planos estilistas. Mas as reações foram as melhores, na verdade todos – os que importam – apoiaram. Ainda não contei pra muita gente, mas todos os cientes reagiram lindamente.
Feliz, sinto-me quase realizada.
No fim das contas, o que eu quero é criar. Palavras ou roupas: Conceitos. É tudo muito parecido, quando crio uma personagem, por exemplo, as roupas vêm com ela. E eu desenho as roupas, pinto-as e penso nos cabelos. Inclusive, que óbvio, uma das minhas partes favoritas na Letras era a Estilística. A beleza das palavras em um texto literário. Beleza.
Nunca saberei o que separa o sublime e original do berrante e escandaloso. Terei que seguir os meus instintos. Mas, caro Victor, sou sem noção o suficiente para ter um ponto de vista na moda. E isso é fundamental.

0 Moedas no Cofrinho:

Postar um comentário