Com Agulhas

Eu gosto de escrever, de inventar uns diálogos loucos em jantares imaginários. Eu gosto de roupas, invento uns modelos e luto pra dar as luzes, partos difíceis esses, idéias. Gosto de comprar roupas e sapatos, futilidades não, estilo próprio; não sou uma fashion victim - a vida é demasiado curta pra rótulos e embalagens estragadas. Eu gosto de café, de canecas e de planos de casamento. Gosto de mim, contudo e com tudo.

Com Canetas

Eu tenho um dois à esquerda na idade, mas não acho que sou tão velha. Chamo minha gata de nenê e dou apelidos adoráveis ao meu namorado. Eu tricoto porque me acalma, produzindo, me agradam as cores das lãs. Eu amo porque não vivo no gris, amor vivo, amo pessoas e filmes e livros e bichos. Eu tenho o Heitor, já me basta de tanto amor. Eu adoro a língua francesa, adoro as idéias parisienses e as boinas e os cafés.

Coquetel do Rotary

Então costume paulista do Heitor que pega , prometi comentários maldosos sobre um certo coquetel de sexta-feira passada. Aqui os escreverei, da melhor maneira possível (e da mais maldosa, também...).

Começando pelo começo, meu sogro é um membro do Rotary Clube. Ficamos (Heitor e eu) surpresos com esse súbito acontecimento o Zé não parece do tipo conservador e mofado , mas ele parecia estar se divertindo com seus próprios comentários maldosos, dirigidos aos membros mais estereotipados do tal venerando grupo. Todos esses acontecimentos convergiram no coquetel da sexta-feira passada... Nós não tínhamos idéia do que nos esperava no Clube Diamantinos.

Eu não conhecia ninguém do Rotary, além do casal de amigos machadiano dos meus sogros. Nós dois já sabíamos o que esperar, o que começou com o dilema das roupas do Heitor. “Meu filho, tu não vais assim! De calça jeans, com esse casacão... E de toca ainda por cima!”. Depois de algumas reclamações, resmungos e bravatas, nós dois estávamos prontos – eu fiquei bem bonitinha, com as roupas da minha mala. Eu tinha certeza da inveja com que me olhariam, mesmo se eu fosse totalmente mal-vestida... Afinal, eu estou na flor dos meus vinte anos – memória longínqua para a maioria daquelas mulheres retocadas, plastificadas e vazias.

E foi assim mesmo, morto de frio e apresentável, o casal de jovens foi apresentado ao salão de relíquias da metade do século passado. E eles se refestelaram à vista das nossas carnes frescas! Aliás, estou a citar um dos mofados, quero dizer digníssimos senhores. Abraçou-me com tanta vitalidade que eu pensei que ele fosse ter um ataque cardíaco e cair morto, ali mesmo, da tamanha excitação ao enxergar um casal tão sem plásticas e hipocrisias. E tomamos conhecimento do tal senhor ainda na antecâmara, não havíamos sequer adentrado no salão!

No salão, tantas mesas com tantos velhos – cujas idades somadas nos levariam de volta, quiçá, aos dias de Cristo! – que eu esqueci do todas as minhas embrionárias ruguinhas. Ao sermos escoltados pelos pais do Heitor casal mais jovem do Rotary, devo adicionar pelo salão, apertamos mais algumas mãos moles e rugosas, fui abraçada entusiasticamente mais algumas vezes, até nos sentarmos. Desse momento em diante, foi só diversão. Primeiro, notamos as mais diversas celebridades – Padre Marcelo Rossi, o Pingüim do Batman o dirigido pelo Tim Burton, o Antonio Fagundes esse estava na nossa mesa e até uma caquética Amy Winehouse aplique hediondo no cabelo e tudo. E, aos oriundos do Ensino Médio do CEFET: estávamos sentados com nossa amada ex-professora de geografia do primeiro ano, a memorável Jacqueline. Sim! Ela mesma! Agora está de marido novo... Com quantos será que ela já o enganou?

Mas houve comida! E como... Devemos ter engordado uns quilinhos ali, enquanto nos empanturrávamos de salgadinhos e canapés, bolinhas de queijo e croquetes oh yeah, o Rotary serve croquete tembém... Nós comemos como se não houvesse amanhã, e é o que vocês devem fazer também se algum dia forem a um coquetel de algum clube venerando como esse.

Enquanto tínhamos mini-quiches de frango nas bocas e nos pratos, fomos convidados a levantar e saudar o pavilhão what the hell? : os discursos começavam. Lindo, nós fazendo algo absurdo. Em seguida, cantamos o Hino do Brasil e do Rotary tudo com legendas, claro. Garanto que nem os membros do Rotary sabem cantar o hino – ou lembram, porque o Alzheimer ‘tá comendo naquele lugar e ouvimos o maravilhoso e grandiloqüente discurso do querido prefeito Fetter Júnior membro do Rotary, ele certamente vive pela premissa do grupo: fazer o bem sem olhar a quem... . Tive de baixar a voz ao fazer comentários adoráveis sobre o prefeito – se não corria o risco de ser perseguida com tochas por aquelas pessoas.

Os discursos acabaram, nós comemos mais um monte, pouquinho, e então veio a apresentação artística.

Um cantor lírico – sei lá o que Muñoz é seu nome - , vencedor de inúmeros prêmios de segunda categoria estou sendo bondosa, a categoria deve ser mais baixa nos agraciaria com sua interpretação de clássicos da música mundial. Além de sua notável presença notável mesmo, com aquele terno absurdamente cintilante não havia um cego – e devia haver vários na platéia – que não o percebesse , alguns bailarinos meio pesados e toscos interpretariam suas canções. Depois de alguns assassinatos lingüísticos, digo canções, eu comecei a cochichar ao ouvido de meu namorado “Imagina se ele resolve cantar Piaf!” E, boca maldita a minha, ele cantou Piaf. Hymne à L’amour... Absurdo. Se eu já não tivesse notado sua completa tosquice lingüística, notaria no momento em que ele abriu a boca.

Ele cantou assim:

Le ciel bleu sur nous peut s'écrouler tá errado, o certo é “s'effondrer”!
Et la terre peut bien s’effondrer tá errado, o certp é “s’écrouler”!
Peu m'importe si tu m'aimes
Je me fous du monde entier
Tant qu'l'amour inond'ra mes matins
Tant que mon corps frémira sous tes mains
Peu m'importe les grands não existe isso problèmes
Mon amour puisque tu m'aimes

J'irais jusqu'au bout du monde
Je me ferais teindre en blonde
Si tu me le demandais
J'irais décrocher la lune
J'irais voler la fortune
Si tu me le demandais

Je renierais mes amis errou de novo, o certo é “ma patrie”
Je renierais ma patrie novo erro ridículo, a forma correta “mes amis”
Si tu me le demandais
On peut bien rire de moi
Je ferais n'importe quoi
Si tu me le demandais

Nessa parte, ele murmurou umas palvras ridículas, uma tentativa frustrada de poema, tão brega e piegas quanto o terno cintilante dele (Clube Diamantinos não é Las Vegas e tu não és o Elvis Presley). Ele o fez, certamente, pela sua gritante inaptidão na língua francesa. Não falo francês muito bem, mas sei pronunciar os “e” mudos e também sei que a pronunciação referente aos acentos agudo, grave e circunflexo no “e” não é a mesma do português. Deplorável. O certo seria, mas nem tão certo porque ele errou coisas básicas: Si un jour la vie t'arrache à moi
Si tu meurs que tu sois loin de moi
Peu m'importe si tu m'aimes
Car moi je mourrais aussi

Nous aurons pour nous l'immensité que surpresa, ele inverteu de novo. Aqui, é “l’éternité”!
Dans le bleu de toute l'éternité lê-se (ou canta-se, se tens pelo menos alguma noção de francês – nosso amigo cantor não tinha) “l’immensité...
Dans le ciel plus de grands inventando de novo problèmes
Mon amour crois-tu qu'on s'aime
Dieu réunit ceux qui s'aiment

Absurdo... Enfim, não vou postar tradução porque realmente não importa nesse caso. O que, de fato importa, é que estou cansada de escrever. E vocês devem estar cansados de ler também, me estendi bem mais do que pretendia... Essa música causou o temporário blecaute das minhas habilidades depreciativas, então só vou acabar dizendo que, daí em diante, foi só comilança, táticas divertidas de “como não se entediar em festas do Rotary” e felicidade. Afinal, eu estava com o Heitor e nós nos divertimos em qualquer situação salvo mórbidas exceções, acredito, mesmo em uma convenção de antigüidades.

Vou-me embora.

3 Moedas no Cofrinho:

  1. Anônimo disse...
     

    NEM pra me convidar pra boca livra nea!!

    SUA TOSQUINHA

  2. Guilherme Corrêa disse...
     

    Uma festinha dessas deve ser, de fato, bastante engraçada!
    Tu te lembras da Maria da Graça Pinto Ferreira, a gestora de relações internacionais do CEFET? Ela é uma das mais botoxadas do Rotary, certamente estava no referido jantar.
    E a Jacqueline continua usando toda aquela escola de samba no pulso? Aquelas pulseiras me davam nos nervos.

  3. Anônimo disse...
     

    Nheco! Ngm comenta nessa joça???

    auaehuehea

    Voce eh doida ein..
    :P

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